Por Arthur Virgílio Neto, de Lisboa – Morreu o excepcional boxeador "Smokin" Joe Frazier, que foi campeão peso pesado num dos instantes mais competitivos da história do boxe mundial. Basta dizer que foi contemporâneo de Muhammad Ali (ex-Cassius Clay, que "picava como uma abelha e bailava como uma borboleta") e do fortíssimo George Foreman, além de outros valores que, em época menos concorrida teriam chegado ao topo e lá permanecido.
Joe subiu ao ringue 37 vezes e, segundo a imprensa, teria sido derrotado em quatro ocasiões: duas vezes diante de Ali e outro tanto para Foreman. Não me lembro dessa segunda derrota para Foreman. Sou capaz de apostar que travaram um único combate, com vitória de Foreman no segundo round.
O estilo de Joe era parecido com o de Mike Tyson, com a diferença de que este não revelou a mesma capacidade de enfrentar momentos adversos na luta. Tyson tendia a decrescer de produção se as coisas demorassem a se resolver, enquanto Frazier persistia no mesmo ritmo alucinante até o final.
Ali foi o melhor dos três. Peso pesado que tinha agilidade de peso médio. Inacreditável. Derrotou o aparentemente imbatível George Foreman naquela que foi talvez a peleja mais inteligente jamais travada por um boxeador. E enfrentou Joe Frazier três vezes: perdeu na primeira, por decisão unânime dos juízes de mesa, após haver sofrido um knock down no penúltimo assalto, o décimo quarto. Venceu na segunda, por pontos e decisão unânime dos juízes e a terceira merece ser contada à parte.
As Filipinas foram o cenário desse épico combate. Findo o décimo quarto round, o técnico de Ali, o matreiro Angelo Dundee, ouviu do seu pupilo: "Angelo, você sabe que não sou de fugir da raia, mas a verdade é que não suporto mais lutar. Dei o que tinha e o que não tinha. Joga a toalha. A vitória é do Joe". Angelo fez que sim, levantou-se e foi espreitar o corner de Joe Frazier. Ouviu o técnico deste dizer: "Joe não agüenta mais. Não voltará para o último round. Vou jogar a toalha". E aí o esperto Angelo Dundee se fez de morto, não jogou a toalha e o juiz de ringue decretou a vitória de Muhammad Ali por nocaute técnico.
Só que na hora de proclamar o resultado, o vencedor não conseguia levantar sozinho do banco. Teve que ser carregado até o centro do ringue.
Moral da história: na verdade os dois gigantes empataram essa luta e a esperteza de Angelo Dundee é que fez a diferença. Deve ter pensado: "se o meu campeão está 'morto', óbvio que o outro deve estar pelas tabelas também".
Outro fato interessante: Ali perdeu a coroa dos pesados porque se recusou a combater no Vietnã. Foi preso e tudo. Seu gesto motivou a juventude a fazer o mesmo.
Tempos depois, já anistiado e com a licença para boxear devolvida pelo Estado de Nova Iorque, telefonou para Frazier e pediu-lhe que o pegasse em casa para darem uma conversada enquanto rodavam de carro. E abriu o coração: "Joe, estou sem dinheiro. Preciso lutar. Você, que é o novo campeão, precisa me dar uma oportunidade. Deixe-me disputar o título com você." Joe nem pestanejou: "manda teu empresário procurar o meu. Faremos a luta". Mostrou grandeza e coragem.
E aí fizeram o primeiro dos três combates, aquele que sorriu para Frazier, que manteve o cetro até ser destronado por Foreman, que perdeu para Ali, que deu duas chances a Joe de disputar o título. Pelo twitter, tanto Muhammad Ali quanto George Foreman homenagearam o grande campeão que se foi.
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