segunda-feira, 21 de março de 2011

À CATA DE UM BIÓGRAFO


*Por Flexa Ribeiro - Lula recusou convite para almoçar com Obama. Collor e Itamar compareceram. Sarney foi. Fernando Henrique também foi. Por que Lula não foi?

É fácil encontrar motivos para fazer ou não fazer alguma coisa que é esperada de nós: dor de dente, compromisso anterior, morte na família e assim por diante. Motivos são só motivos: fugazes, episódicos, voláteis.

Razões são mais profundas e reveladoras, pois descem como raízes no interior de nós mesmos, prendem-se às nossas mais íntimas características, inseguranças e singularidades.

As explicações oferecidas por Lula ao recusar o convite para almoçar com o presidente dos Estados Unidos, na companhia da atual presidente do Brasil e dos outros quatro ex-presidentes, foram muitas e confusas: não queria ofuscar com seu brilho a atual presidente; não foi convidado pessoalmente por Dilma; rolava um churrasco em São Bernardo pelo aniversário de um filho.

A presença de Lula teria certamente contribuído para apresentar a um chefe de Estado estrangeiro o espetáculo – raro na região – de um país onde ex-presidentes contribuem com sua presença física para testemunhar perante o mundo a regularidade democrática da alternância no poder.

Fica em aberto a pergunta: tendo recusado o convite terá Luiz Inácio, o Lula, revelado uma faceta nova de si mesmo? Haverá um traço de insegurança que surge na pessoa de Luiz Inácio, uma vez despido dos apanágios do poder que exerceu na oposição, ou no governo como o personagem Lula?

Afinal, foi Luiz Inácio ou Lula quem não ousou dividir o palco com sua sucessora e seus antecessores? Afinal, quem ofuscaria quem?

Alegou-se como certo que Lula ofusca Dilma. Mas, e se Luiz Inácio, na circunstância, teme o contrário: e se Dilma, no exercício do poder, ofuscar Lula? E se Luiz Inácio não se sentir à vontade diante de seus antecessores, inseguro frente ao Collor com quem debateu na campanha eleitoral que disputaram, e em ver o abominável FHC falando inglês com Obama?

Escrever uma biografia é das mais complexas e difíceis tarefas a que alguém se pode entregar. Há que se encontrar personagem, estudar a trajetória, a época, desembrulhá-lo dos enfeites, intrometer-se em sua intimidade e especular responsavelmente sobre as razões de seus atos e atitudes.

Lula – Luiz Inácio – aguarda um biógrafo à altura de sua complexidade – ou simplicidade.

*Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação.

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