CORRUPÇÃO EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO

Por Antônio Zacarias - Causa repulsa a ilimitada capacidade do deputado federal Silas Câmara (PSC) de ignorar os mínimos princípios de dignidade pública. Sua vocação para protagonizar espetáculos de corrupção parece desmedida. Não bastassem as duas ações penais a que responde no Supremo Tribunal Federal (STF), agora terá que se explicar na Justiça Eleitoral acerca dos quase 500 mil reais que enviou para a mulher no Acre, no ano passado.

Segundo denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE), Antônia Lúcia, que é do mesmo partido do marido, usaria o dinheiro – apreendido pela Polícia Federal - para comprar votos. Apesar do escândalo, agravado com a decretação de sua prisão preventiva pela Justiça acreana, Antônia Lúcia conseguiu eleger-se deputada federal.

A convicção do procurador Edmilson Barreiros de que foi de fato Silas Câmara que remeteu a vultosa quantia se baseia em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial. Em uma delas, o deputado aparece em conversa com a esposa. Sem nenhum pudor, vai direito ao assunto:

“Quero saber quanto você precisa para não perder a eleição. Menina, deixa de ser chata, deixa de ser coitadinha”.

Se na classe política esse comportamento de Silas Câmara é visto como algo natural, corriqueiro, no MPE a prática vem tendo a resposta que merece. Se dependesse do intrépido Edmilson Barreiros, não havia mais um corrupto solto no Amazonas.

Infelizmente, não obstante a ação destemida desse jovem procurador, não há motivo para comemoração no nosso Estado, nem no Brasil, embora, recentemente, pela primeira vez na história da República um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, tenha ido parar atrás das grades.

Não fosse a praga da impunidade que assola o País, Silas Câmara já estaria na cadeia faz tempo. “Impunitas peccandi illecebra” (a impunidade estimula a delinquência), ressalta o ditado em latim. Encarregado de punir os incomuns, o Supremo Tribunal Federal (STF) nunca mandou nenhum para a prisão.

Todos os principais protagonistas dos recentes espetáculos de corrupção estão livres, leves e soltos, refestelando-se com o dinheiro que surrupiaram dos cofres públicos.

Por falar em dinheiro, há uma pergunta que precisa ser feita: de onde saíram os 472 mil reais que Silas Câmara remeteu para a mulher dele? Não é difícil supor, é? Claro que não. Saíram da Igreja Assembleia de Deus, da qual Silas e a esposa são pastores. Esse fato torna a história ainda mais escabrosa, pois o casal, ao usar o dízimo para práticas incompatíveis com os ensinamentos de Deus, desdenha dos fiéis. Agindo dessa maneira, Silas e a esposa passam a impressão de que veem a Bíblia como uma mera obra de ficção. A não ser, é claro, que eles estejam se lixando para os castigos divinos. O que você acha, caro internauta?