ROUBALHEIRA NO POSTO DE ABASTECIMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO AMAZONAS

Não é de hoje que grande parte do combustível destinado ao abastecimento da frota da Polícia Civil do Amazonas é furtada. Diariamente, e sobretudo nos fins de semana, são vistos deixando o posto, cheios de barris com capacidade para armazenar até 50 litros cada, o Fiat Ducato (igual ao da foto) de placas JWX 9899, a Frontier (tipo “camburão”) de placas JWS 2590 e um caminhão-baú de cor azul, pertencente a um motorista da Polícia Civil, de nome Conrado, lotado na garagem da instituição. A garagem é responsável pelo funcionamento do posto.

O Fiat Ducato e a Nissan são usados exclusivamente no transporte de gasolina. Passam a maior parte do dia estacionados numa pequena rampa do posto. O furto ocorre geralmente durante o dia, à vista de todos, o que nos faz suspeitar que o delegado-geral Mário César se beneficia disso, direta ou indiretamente. Reforça essa suspeita o fato de o chefe da garagem, investigador Lázaro Rossivaldo Júnior, ser homem de confiança de Mário César.

Ao revenderem o combustível furtado, os responsáveis incorrem em outro crime, previsto no Art. 1° da Lei 8176/91, que diz: “Constitui crime contra a ordem econômica:
I - adquirir, distribuir e revender derivados de petróleo, gás natural e suas frações recuperáveis, álcool etílico hidratado carburante e demais combustíveis líquidos carburantes, em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei.”O crime é punido com pena de detenção de um a cinco anos.

Os ladrões também infringem normas do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), ao transportarem a gasolina - de forma inadequada e perigosa - em veículos que se transformam em verdadeiras “bombas” ambulantes.

Também se furta óleo diesel do posto, que sai em tambores de 200 litros cada. Esse diesel deveria ser todo levado para o interior do Estado, a fim de abastecer as viaturas da Polícia Civil. Apenas parte dele chega ao seu destino.

O motorista José Maria, o Pit Bull, responsável por fazer chegar combustível às delegacias do interior, é dono de um patrimônio que compreende vilas de casas, um belíssimo sítio com criação de peixes, situado no município de Novo Airão, e um carro Prisma do ano que custa perto de R$ 40.000,00. O salário de um motorista da Polícia Civil não chega a R$ 1.400,00.

O furto de gasolina só é possível porque muitas viaturas que não estão funcionando, devido a pane mecânica, constam do relatório do posto como abastecidas diariamente. Esse combustível sai do posto da Polícia Civil nos três veículos citados no início dessa matéria e também nos tanques de carros particulares. Essa orgia ocorre todos os dias e se intensifica nos fins de semana, principalmente no sábado. Alguns desses carros, além de serem abastecidos, ainda levam gasolina em corotes.
Todas as informações acima elencadas me foram prestadas por um motorista que já trabalhou na garagem da Polícia Civil. Segundo ele, que pediu o sigilo constitucional da fonte, o chefe da garagem e assessor de Mário César, Lázaro Rossivaldo Júnior, o Júnior, é quem comanda o esquema de furto de combustíveis. De acordo com o motorista, Júnior ficaria com a maior parte do dinheiro obtido com a venda ilegal de gasolina e óleo diesel. Ele não soube dizer se esse dinheiro é repassado a Mário César. Hamilton, outro funcionário da garagem, também participa do furto, disse o informante.

Se Mário César não tem envolvimento nessa roubalheira, no mínimo está cometendo crime de prevaricação, porquanto é inconcebível a idéia de que ele nada sabe sobre isso. No dia 18 de agosto de 2008, mais de 2 meses depois de ter se tornado delegado-geral, Mário César revelou, em entrevista ao jornal Diário do Amazonas, que pelo menos 50 carros particulares eram abastecidos ilegalmente no posto de combustível da Polícia Civil, causando um prejuízo mensal de cerca de R$ 60.000,00 ao erário.

Pelo visto, Mário César apenas substituiu esses 50 carros, abastecidos com o aval de seu antecessor, Vinícius Diniz, por outros 50 pertencentes a amigos e parentes seus.