ENVOLVIDOS NO “CASO FRED” SERÃO JULGADOS EM DEZEMBRO DESTE ANO. PAI DE DANIELLE JÁ FOI PRESO POR TRÁFICO. VEJA ENTREVISTA COM FRED JÚNIOR

PMs serão julgados no dia 12 de dezembro

Por Cássio Cunha e Joana Queiroz - Parece que agora é dos vera, como diziam os amazonenses de antanho. Até o fim deste ano, segundo o promotor de Justiça Fábio Monteiro, o pessoal acusado de matar o técnico agrícola Fred Fernandes será levado a julgamento. Também sentarão no banco dos réus os supostos mandantes: Waldemarino Fernandes Damasceno e Terezinha de Jesus Oliveira Rocha, pais da universitária Danielle Damasceno, morta a golpes de cutelo, em março de 2001, pelo ex-namorado, Fred Júnior, hoje pastor da igreja Aliança Evangélica.

Os soldados da Polícia Militar Ronaldo Melo da Silva e Olavo Luiz Farias Paixão, além do ex-PM Erivan Carvalho Pereira, serão julgados no dia 12 de dezembro. No dia seguinte, será a vez de Damasceno e Terezinha.

Pouca gente sabe em Manaus que Damasceno, o pai da moça assassinada por Fred Júnior, já foi preso por tráfico de drogas. Se não me falha a memória, a prisão se deu em Brasília, há mais ou menos uns 25 anos, quando Damasceno desembarcava no aeroporto local com dois quilos de cloridrato de cocaína. Nessa época, ele era dono de uma academia de artes marciais aqui em Manaus. Faixa preta de karatê, tinha fama de valentão. Não hesitava em surrar quem o contrariasse.

Fred Júnior (de óculos) com a mãe e um irmão: outra vida

Para o juiz Mauro Antony, o julgamento será um dos mais polêmicos dessa pauta, por ser um crime que teve grande repercussão na época. Além de familiares e amigos dos réus e das vítimas, é esperada a presença de muitos acadêmicos dos cursos de Direito.
Segundo o magistrado, os processos ficaram engavetados por conta de manobras de advogados.

O advogado Félix Valois atuará na defesa dos PMs

Os advogados Catharina de Souza e Félix Valois Coelho Júnior vão atuar na defesa de Erivan, Ronaldo e Olavo, que respondem pelo crime de homicídio contra Fred Fernandes. Ede Rugles de Melo vai defender o casal Waldemarino e Terezinha. Eles apresentaram laudo médico apontando problemas mentais.

O juiz Mauro Antony vai presidir o julgamento

Para o magistrado, no momento do crime os mesmos não apresentaram nenhum problema e poderão ser responsabilizado por seus atos. Os cinco réus estão aguardando o julgamento em liberdade. Os militares chegaram a ser presos, mas foram soltos por excesso de prazo.


MORTO A TIROS

O técnico agrícola Fred Fernandes da Silva foi morto a tiros em junho de 2001, quando saía da Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no Centro, onde esteve para visitar Fred Júnior, à época preso pelo assassinato da ex-namorada Danielle Damasceno, a “Danny”, filha de Waldemarino e Terezinha Damasceno, em março de 2001.

Na ocasião, a vítima teve o carro cercado por pistoleiros em motocicletas que atiraram contra o veículo. Ele foi alvejado na cabeça. A mulher dele, Maria da Conceição, e o filho Adônis, também foram baleados, mas sobreviveram.

No processo, o Ministério Público Estadual (MPE) chegou a denunciar um grupo de nove pessoas, quase todos policiais e ex-policiais militares.

O ex-PM Cleomar Cunha, o “C. Cunha” ou “Anjo da Morte” chegou a ser apontado como o atirador que matou Fred Fernandes com a cumplicidade dos militares Francisco Trindade Saraiva Pinheiro, Cleto Ferreira Filho, Erivan Carvalho Pereira, Wellington Mateus Gonçalves, Raimundo Sandoval Gimaque, Claudiney Feitosa, Ronaldo Melo da Silva e Olavo Luiz Farias Paixão.

O processo está dividido em três. Um deles, que tinha apenas os militares como réus, foi concluído com a condenação de apenas um PM, o soldado Claudiney Feitosa, que recorreu da sentença e cancelou o julgamento. Ele continua trabalhando normalmente na PM. Outro que foi julgado e condenado foi o tio de Danielle Damasceno, Krishnna de Oliveira Rocha.

JULGAMENTO ADIADO

A outra parte do processo tem como réus os pais de Danny, o empresário Waldemarino Damasceno e Terezinha de Jesus Oliveira Rocha. Este já foi incluído em pauta para julgamento ao menos duas vezes e, nas duas, retirado.

Para o juiz Mauro Antony e o promotor Fábio Monteiro, Damasceno e Terezinha deverão passar por novos exames, feitos por uma junta médica, para comprovar os problemas mentais que alegaram ter, na tentativa de não irem a júri popular.

FRED ESTÁ DE VOLTA E RECUPERADO

Ronaldo Tiradentes no estúdio da Rádio CBN: entrevista exclusiva

Em novembro do ano passado, o jornalista Ronaldo Tiradentes entrevistou na Rádio CBN Manaus o ex-detento e hoje pastor Fred Júnior. Tiradentes reproduziu em seu blog (http://www.cbnmanaus.com.br/ronaldotiradentes/?p=2580) trechos importantes da entrevista. Acompanhe:

Blog do Ronaldo - Você foi condenado a 18 anos de prisão. O cumprimento da pena em regime fechado foi de quanto tempo?

Fred - 3 anos e 4 meses. Consegui um beneficio da justiça que é dado a todo interno que tem bom comportamento a pena de regime fechado ao semi-aberto e, em seguida, passando para a Casa do Albergado. Hoje sou beneficiado por uma portaria que me dá direito de ficar em casa, estar com a minha família, com a minha esposa e voltar uma vez por semana para assinar.

Blog do Ronaldo - Ao chegar à penitenciária, o que passou pela sua cabeça? Como foi sua vida nesse período?

Fred Júnior quando concedia entrevista a Ronaldo Tiradentes

Fred - A princípio foi um choque muito grande. Um garoto de classe média – que até então só tinha entrando na delegacia para tirar RG – chegando naquela realidade hostil, convivendo com pessoas estranhas. Mas procurei aprender as leis lá de dentro, conhecer o funcionamento das coisas, o relacionamento com os internos… E com isso fui desenvolvendo um cotidiano. É o que digo sempre: o mais importante foi ter tido um acesso rápido à fé em Cristo, por conta do isolamento. Quando lá eu passei a conhecer Jesus, tomei uma posição: “Não vou me misturar com o que estiver de errado aqui dentro. Eu vou respeitar a todos, vou aprender a conviver da melhor maneira, mas sem me envolver com eles.”

Blog do Ronaldo - E o relacionamento com os outros internos, como foi?

Fred - No começo sempre há uma desconfiança, e os internos pegam um pouco no pé. “Ah, o cara fez isso, desfez um, matou, roubou e chega aqui e quer dar um de crente que anda com a bíblia debaixo do braço”. Com o tempo se passando, aconteceram algumas coisas. A morte do meu pai, a sentença, algumas perseguições, tiroteio, rebeliões… e eu passei por tudo isso lá dentro.

Blog do Ronaldo - Sua história apareceu essa semana na imprensa. Você ficou frente a frente com os supostos matadores ou mandantes da morte de seu pai?

Fred - Os policiais não são supostos mandantes, até porque a nossa família não teve problema algum com nenhum tipo de autoridade. Até hoje a nossa família tem uma incerteza: se esses acusados tiveram envolvimento ou não. Em relação a estar frente a frente, como eu falei para outro meio de comunicação, é indiferente.

Blog do Ronaldo - Você passou por alguma rebelião?

Fred - Sim, na Penitenciária Vidal Pessoa. Ela durou 12 horas. E uma outra de 4 dias no Complexo Penitenciário Anísio Jobim.

Blog do Ronaldo - Você participou de alguma dessas rebeliões, foi ativista ou apenas assistiu?

Fred - Não, de forma alguma. Até porque a rebelião tem seus líderes, que a iniciam. A gente participa por estar lá dentro. Não tem pra onde correr. Não tem como dizer eu sou passivo.

Blog do Ronaldo - Você começou um curso de psicologia?

Fred - Sim, mas parei no 5º período.

Blog do Ronaldo – Por quê?

Fred - As atividades da igreja começaram a me exigir muito tempo. Sou pastor da igreja Aliança Evangélica. Compartilho o meu exemplo: a forma como Deus trabalhou na minha vida.

Blog do Ronaldo - Para finalizar, deixe seu testemunho e o seu conselho para os jovens.

Fred - Sempre digo para todos os jovens que nós temos muita coragem para experimentar coisas novas e fazermos descobertas. O salmista Davi disse: provai e vede que o Senhor é bom. Quando surge essa oportunidade de receber Jesus na nossa vida, devemos agarrá-la com unhas e dentes.