quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O AMBIENTE PERTO DE NÓS


Por Arthur Virgílio Neto - Um igarapé serpenteia entre os prédios. Uma cachoeira jorra na quadra ao lado. A frase “defesa do meio ambiente”, para a maioria, é quase uma expressão ideológica, algo restrito às ONGs ambientalistas ou dirigido a terras muito remotas, onde o homem ainda não esteve ou pouco pisou. Quando fui prefeito de Manaus procurei quebrar esses paradigmas e agi. Criei a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, à época sob a sigla Sedema e hoje, acrescida do termo “Sustentabilidade”, transformada em Semmas. E fiz jorrar a Cachoeira Alta do Tarumã, para mim o principal cartão postal ambiental da cidade.

A vida do planeta exige ação muito perto de nós, com um olhar diferente sobre os arredores e gestos simples, que tenham objetivos didáticos, buscando mudar atitudes.

Trabalhando na Embaixada do Brasil, em Lisboa, embora há pouco tempo, me vejo de volta a Manaus, para receber tocante homenagem da Câmara Municipal, e conduzido a recordar minha relação sempre muito intensa com a cidade.

Fiquei penalizado ao constatar que, passados esses 20 anos de minha administração, nem toda mudança na consciência ambiental da sociedade conseguiu evitar que a poluição voltasse a dominar a cachoeira e seu entorno.

Manaus saiu de pouco mais de 200 mil habitantes, em 1968, data de efetivação da Zona Franca de Manaus, para mais de 1,5 milhão, em 1989, ano em que assumi a Prefeitura de Manaus. Foi justamente da Cachoeira Alta do Tarumã que a construção civil retirou toda a pedra usada na transformação do cenário bucólico de então na selva de pedra que encontrei. Enriquecidos, empresários se deliciavam com a substituição do cantar dos pássaros pelo estrondar da dinamite,

formando imenso e insalubre lago no local da extração.

Resolvi enfrentá-los. Poderosos e, por aí, achando-se inimputáveis, eles armaram capangas e resolveram resistir à fiscalização severa que impus. Precisei descer de helicóptero no local, depois que as vias terrestres foram interditadas por eles, e conseguimos retirá-los.

Foi aí que começou a despoluição, seguindo pelo igarapé que penetra mata adentro, rumo à nascente, à época tomado por pocilgas e outras fontes de resíduos. Limpamos tudo. A área voltou a ser frequentado balneário. A Cachoeira Alta tornou a jorrar água límpida, da qual tive a imensa alegria de beber.

Fico pensando no cenário do tópico frasal: um igarapé serpenteia entre os prédios. Uma cachoeira jorra na quadra ao lado... É possível, desde que a mentalidade social evolua para transformar a realidade próxima e pare de tomar a defesa ambiental como luta distante, excessivamente dependente das políticas públicas.

Ainda guardo em mim a sensação maravilhosa proporcionada pela recuperação da Cachoeira Alta do Tarumã. Lembro-me do título de anúncio para jornal, que o genial Nizan Guanaes escreveu, à época, sobre uma foto da água jorrando em poderosa plenitude: “É lindo ver que todo nosso trabalho foi por água abaixo”.

Guardo a esperança de que a humanidade, capaz de eliminar com tanta eficiência o buraco na camada de ozônio, possa voltar os olhos para os arredores e mudar a realidade ambiental próxima. É possível. Nós fizemos uma cachoeira voltar a jorrar.

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