O prefeito Amazonino Mendes teve uma reunião secreta na semana passada com uma comissão dos proprietários dos microônibus que fazem o transporte alternativo em Manaus. Na ocasião, demonstrou que está decidido a acabar com este tipo de modal e deu apenas uma alternativa à categoria: a compra de ônibus convencionais zero quilômetro para formar uma nova cooperativa, que atuaria nas linhas normais, como acontece em cidades como Campinas e Goiânia.
A comissão estranhou a oferta e perguntou como eles seriam incluídos no sistema, se os empresários donos das concessões estão comprometidos em colocar 800 novos ônibus nas ruas até dezembro. Foí que veio a surpresa: o prefeito admitiu que não tem certeza se isso efetivamente ocorrerá. E ainda disse desconfiar que, dos 500 veículos que chegaram, pelo menos 100 não seriam realmente novos.
"Se vocês conseguirem 400 ônibus novos, eu formo a cooperativa e dou a concessão para operarem na cidade", vaticinou Amazonino. Na realidade, tratava-se de uma jogada de xadrez. O prefeito sabe que os donos dos microônibus dificilmente teriam crédito ou recursos à vista para bancar ônibus convencionais. Jogou o desafio no ar para desestabilizá-los, certo de que voltariam com resposta negativa e teriam que, finalmente, capitular, saindo das ruas.
Como não tem bestinha na categoria, a comissão saiu da reunião e foi em busca de ajuda profissional. Conseguiram na última quinta-feira uma carta da empresa Marcopolo dizendo que poderia financiar ônibus novos, através de seu próprio banco, o Moneo, se fosse criada uma cooperativa em Manaus. O documento foi entregue ao prefeito, que agora se vê diante de uma sinuca de bico.
Amazonino sabe que está levando uma pernada dos empresários. Ele já mandou consultar os fabricantes de ônibus para saber se há encomenda dos outros 400 veículos prometidos e recebeu resposta negativa. As fábricas até já entraram em férias coletivas. O prefeito chegou a autorizar o grupo UAI, com quem mantém estreitas relações, a sondar o mercado mineiro, onde a empresa tem origem, para saber se haveria empresas de transporte interessadas em operar em Manaus com veículos novos. Ainda não achou nenhuma.
Para que a cooperativa dos alternaticos atue nas linhas convencionais com ônibus novos, eles precisariam de uma carta de anuência da Prefeitura. Se a conceder, o prefeito estará rompendo o acordo com os empresários, porque teria que repassar alguns trechos para os cooperados. E aí tudo poderia acontecer no sistema: de boicotes a uma guerra entre empresas e a cooperativa.
A população, que não tem nada a ver com estes movimentos de bastidores, continua muito insatisfeita com o sistema e isso se reflete na popularidade do prefeito. Os alternativos tentam de tudo pra driblar a portaria que aumentou absurdamente o valor da passagem neste tipo de veículo (veja aí em cima o flagrante do repórter fotográfico Sandro Pereira, do Diário). Muito preocupado com o povo, o prefeito foi passar o feriado prolongado e o aniversário de 72 anos longe do barulho, em um balneário paulista onde mantém uma residência. Afinal, ninguém é de ferro...
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