terça-feira, 24 de janeiro de 2012

HAMILTON MAKI


Por Arthur Virgílio Neto - Meu querido amigo Luis Costa enviou e-mail a um grupo de amigos, entre os quais tenho a honra de estar incluído, sobre o notável cirurgião sul-africano Hamilton Maki. O relato, via slides e texto, comove de verdade.

Maki foi autodidata. Aprendeu a fazer transplantes cardíacos vendo profissionais em experiência com porcos e outros animais. Daí a aprender lidar com seres humanos foi um pulo.

Tornou-se um cirurgião tão brilhante e capaz que o Dr. Christian Barnard o chamou para integrar a equipe que realizou o primeiro transplante de coração num homem. O papel de Maki foi fundamental para o êxito da empreitada.

Para a África do Sul do apartheid odiento, Hamilton Maki tinha um defeito grave: era negro. Por isso nem saiu nas fotos comemorativas do primeiro transplante. Saiu numa, aliás, por descuido...e os jornais disseram tratar-se de um auxiliar de limpeza do hospital.

Barnard, habilidosíssimo cirurgião, virou celebridade instantânea; Maki, gênio do bisturi, sequer podia ganhar salário de médico. Recebia como técnico de laboratório. E não podia tocar em pessoas brancas, embora o fizesse, clandestinamente. E dava aulas para brancos em troca de ínfima remuneração. E morava numa casa infranormal, num gueto, sem água corrente, sem o menor sinal de respeito à dignidade humana.

Nunca desanimou. Estudava com afinco. Vivia para impedir que pessoas morressem.

Com o fim do apartheid, consagraram-no doutor honoris causa e, de mim para mim, penso que isso o deve ter deixado feliz, mas sem lhe despertar a vaidade. Seu coração devia ter dois espaços: um, bem pequenino, para acomodar as amarguras; outro, bem grandão, para doar sentimento às pessoas e ao mundo.

Hamilton Maki, o cirurgião negro, o cirurgião clandestino, foi uma das personalidades mais marcantes, proeminentes e exemplares de todo o século XX. Bom falar dele agora, tanto tempo depois. O coração da gente fica mais leve.

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