terça-feira, 8 de junho de 2010

MÉDICO DIZ QUE PRESENÇA DE POLICIAIS AGRAVA QUADRO PSIQUIÁTRICO DE WALLACE SOUZA

Tércio Genzini, um dos médicos que assistem Wallace Souza no Hospital Bandeirante, em São Paulo, encaminhou carta ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal, dizendo que a presença de escolta no local está agravando sobretudo o quadro psiquiátrico do ex-deputado. “Sua situação clínica orgânica grave associada ao seu confinamento com a presença de escolta permanente em seu quarto tem agravado esta situação e do ponto de vista médico estamos começando a ficar sem opções terapêuticas”, enfatiza o médico. A carta foi escrita em março, mas somente hoje chegou ao seu destino.

Ei-la, na íntegra:

HEPATO
Hepatologia e Transplante de Órgãos



Ao Ministério Público e Polícia Federal


Ilmos. senhores,

Desde 18 de rnarço de 2010 estou acompanhando o paciente Francisco Wallace Cavalcante de Souza, internado no Hospital Bandeirante de São Paulo, transferido da UTI do Hospital da UNIMED com quadro de Síndrome Hepatorrenal Peridionite Bacteriana.

O paciente em questão é portador de Síndrome Anti-fosfolípide, trombose universal do sistema porta, trombose da veia jugular direita, ascite refratária, desnutrição e depressão graves.

Durante este período tratamos sua infecção e recuperamos sua função renal. Estamos tentando recuperar sua condição nutricional com dieta por sonda nasoenteral e realizamos uma cirurgia com implante de uma válvula abdominal para tratamento da ascite refratária.

Estamos também administrando anti-depressivos para tentar reverter seu quadro psiquiátrico depressivo grave.

Entretanto, seu quadro clínico vem se agravando e não estamos conseguindo reverter principalmente seu quadro psiquiátrico. Sua situação clínica orgânica grave associada ao seu confinamento com a presença de escolta permanente em seu quarto tem agravado esta situação e do ponto de vista médico estamos começando a ficar sem opções terapêuticas.

O quadro do paciente é grave e o constrangimento pelo qual também passamos (nós e os agentes policiais) quase todos os dias quando somos educadamente questionados sobre quem somos, numa alusão sobre o que estamos fazendo ali, nos faz concluir que o paciente está renunciando a vida por se sentir numa prisão e não num hospital. Além disso, na condição atual, a única transferência possível deste paciente é para UTI e qualquer tentativa de sair do hospital resultará na sua morte. Portanto, apesar de não ter conhecimento de casos semelhantes, penso ser dispensável, neste momento, a presença do agente policial.

Eu não quero interferir em qualquer decisão da justiça, mesmo por não conhecer qualquer informação sobre o processo que envolve este paciente e nem é minha intenção ter este conhecimento, mas peço a vossas senhorias que avaliem a possibilidade de um período sem a presença de escolta no quarto para eu e minha equipe tentarmos recuperá-lo clinicamente do ponto de vista orgânico é psiquiátrico para que então, quando em condições de alta hospitalar, vossas senhorias exerçam os procedimentos definidos pela lei para seu caso.

Não tenho qualquer relacionamento com o paciente ou seus familiares além da relação médico-paciente mas sinto-me na obrigação de atuar com a máxima dedicação para recuperação do paciente em questão e por isso escrevo esta carta aos senhores responsáveis por esta situação.

Renovo meus protestos de estima e consideração pelas instituições envolvidas e coloco-me à disposição para esclarecimentos.

Cordialmente.


Tércio Genzini

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